A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) abriu
consulta pública para avaliar a incorporação de diversos medicamentos
para tratar o melanoma, o menos comum dos cânceres de pele mas o mais
letal devido ao alto risco de disseminação para outros órgãos
(metástase).
O Brasil registra, anualmente, 6.260 novos casos da doença e 1.794 mortes, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Hoje, os pacientes que só têm acesso ao sistema público de saúde - cerca
de 70% dos brasileiros - não têm direito a tratamentos mais eficientes
já disponíveis na rede privada desde janeiro de 2018.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece apenas a
quimioterapia padrão para o tratamento de melanoma metastático (quando o
câncer se espalhou para outros órgãos).
"A quimioterapia pura para tratamento do melanoma não funciona. A chance
de o paciente passar de um ano com esse tratamento, o único oferecido
pelo SUS, é muito pequena", afirma o médico Antônio Carlos Buzaid,
diretor geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Morais da
Beneficência Portuguesa (SP) e membro do comitê gestor do Centro
Oncológico do Hospital Israelita Albert Einstein.
"Já a terapia-alvo e a imunoterapia prolongam a vida do paciente muito
mais do que a quimioterapia, além de dar ao paciente melhor qualidade de
vida. Daí a importância de esses tratamentos serem incorporados ao SUS -
para democratizar o acesso aos 70% da população brasileira que não têm
plano de saúde complementar", completa o oncologista.
A consulta pública aberta pela Conitec vai avaliar a incorporação de
medicamentos de terapia-alvo e imunoterapia para o tratamento do
melanoma metastático, que é um tipo de câncer com alta frequência de
mutações genéticas, a mais comum delas, que representa aproximadamente
metade dos casos, ocorre em um gene chamado BRAF.
Estudo realizado utilizando terapia-alvo combinada em pacientes com
melanoma metastático com presença de mutação BRAF mostrou aumento
significativo da sobrevida e melhora do estado de saúde desses
pacientes.
"Para os pacientes com mutação BRAF, as terapias-alvo são muito
efetivas. Se os planos de saúde já disponibilizam essas opções há
praticamente dois anos, por que o paciente do SUS não teria o mesmo
direito?", questiona Buzaid.
Apesar de a decisão preliminar da Conitec ser pela "não incorporação" de
medicamentos de terapias-alvo e imunoterapias, a sociedade civil pode
influenciar a recomendação final da instituição.
Todas as pessoas podem expressar sua opinião sobre a incorporação de
terapias-alvo e imunoterapias para tratamento de pacientes com melanoma
BRAF mutado no SUS.
As consultas públicas têm como objetivo promover a participação da
sociedade nos processos de tomada de decisões do governo sobre políticas
públicas de saúde. Na consulta pública, a opção "discordo" da
recomendação preliminar da Conitec é a favor da incorporação de novas
terapias no sistema público. Já a opção "concordo" é favorável à não
incorporação desses novos medicamentos.
A consulta está aberta até o dia 21 de janeiro de 2020. Para o envio de contribuições, o interessado deve acessar o site http://conitec.gov.br/consultas-publicas,
buscar a consulta sob o nome "Terapia-alvo (vemurafenibe, dabrafenibe,
cobimetinibe, trametinibe) e imunoterapia (ipilimumabe, nivolumabe,
pembrolizumabe) para o tratamento de primeira linha do melanoma avançado
não-cirúrgico e metastático", número 85, e seguir as instruções.
Entenda o melanoma
O melanoma é uma doença caracterizada pela formação de células malignas
(câncer) a partir dos melanócitos - células que dão cor à pele.
Quando descoberto no estágio inicial, ele tem mais de 90% de chance de
cura. Pessoas de pele clara e que se queimam com facilidade quando se
expõem ao sol têm mais risco de desenvolver a doença, que normalmente
surge nas áreas do corpo mais expostas à radiação solar. A
hereditariedade também desempenha um papel importante no desenvolvimento
do melanoma.
O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na
pele, em tons acastanhados ou enegrecidos. A lesão, no entanto, costuma
mudar de cor, de formato ou de tamanho, e pode causar sangramento (veja
quadro abaixo).
A evolução da doença
Nos estágios (classificação conforme a extensão e risco oferecidos pela
doença) 1 e 2, o melanoma está clinicamente localizado, sem ulcerações e
sem evidência de metástases. Nesses casos, a cirurgia de excisão é a
principal opção terapêutica: o câncer é retirado juntamente com uma
pequena porção de tecido sadio.
No estágio 3, a doença é considerada regional, incluindo metástases para
os linfonodos, gânglios ou na área ao redor do tumor original.
O estágio 4 caracteriza a doença avançada (metastática), envolvendo
órgãos ou estruturas distantes, além do linfonodos regionais. Nesses
casos, a doença não tem cura.
Opções de tratamento
O tratamento é definido conforme o estágio da doença. As principais
opções podem incluir cirurgia, imunoterapia, terapia-alvo, quimioterapia
e radioterapia. Em muitos casos, pode ser utilizada uma combinação
desses tratamentos.
Embora apresente pior prognóstico, avanços na medicina e o recente
entendimento das mutações genéticas que levam ao desenvolvimento da
doença possibilitam que pessoas com melanoma avançado tenham aumento na
sobrevida e na qualidade de vida.
Atualmente, testes genéticos são capazes de determinar quais mutações
levam ao desenvolvimento do melanoma avançado: em cerca de 50% dos
casos, a mutação ocorre no gene chamado BRAF.
Nos casos de melanoma metastático, os tratamentos mais indicados são a terapia-alvo e a imunoterapia.
A terapia-alvo age diretamente nas células malignas com mutação e poupa
as saudáveis, apresentando melhores taxas de resposta que a
quimioterapia.
"Terapia-alvo é a terapia direcionada a alguma alteração do gene que faz
com que ele funcione como um motor dentro da célula cancerosa. Mas ela
depende de dois fatores: uma alteração específica da célula e o
desenvolvimento de um remédio que atrapalhe o desenvolvimento desse
motor dentro da célula cancerosa", explica Buzaid.
Avaliar a presença da mutação genética no gene BRAF possibilita o uso
dessa terapia, na qual mais de 90% dos pacientes podem se beneficiar com
o controle da doença e ganhos na qualidade de vida.
A imunoterapia utiliza medicamentos que estimulam o sistema imunológico
do paciente a reconhecer e destruir as células cancerosas. "Ela é o
tratamento mais efetivo para os casos em que o gene que sofreu alteração
não foi identificado ou que não existe remédio específico para
combatê-lo", explica o oncologista.
Postar um comentário